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TIMOR-LESTE - FORMAÇÃO, COLONIZAÇÃO E INDEPENDÊNCIA: Depois da tomada de Malaca em 1511 por Afonso de Albuquerque, os portugueses espalharam-se por aquelas paragens e em Molucas. Em 1519 os castelhanos insatisfeitos com os restos das especiarias mandaram a expedição de Fernão Magalhães às Ilhas Molucas, ricas em especiarias e drogas, sustentando que as mesmas ficavam no seu meridiano de Tordesilhas, ao contrário da afirmação portuguesa. Após o seu regresso em 1522, seguiram-se outras expedições castelhanas. Para resolver este desentendimento, ambos os países reuniram-se na Junta de Badajoz - Elvas em 1524, formada com os seus representantes, astrónomos, pilotos, canonistas e teólogos, mas não  chegarem a nenhuma conclusão e Portugal  optou por pagar a Castela 350 000 cruzados e com o  Tratado de Saragoça de 1529 a Castela reconheceu as Ilhas Molucas serem parte dos reinos e senhorios da Coroa de Portugal e Portugal para garantir a defesa do comércio construiu uma fortaleza em Ternate e os castelhanos passaram a usar a rota das Filipinas em 1563. Nisto em 1597 chegaram para aquelas paragens os holandeses e começaram a assaltar e roubar as embarcações portuguesas e ocuparam a parte ocidental de Timor, enquanto alguns colonos e padres missionarios com o apoio dos naturais se refugiaram e conseguiram resisitir na parte oriental. Os holandeses também ocuparam a Indonésia e outros locais abandonados pelos portugueses e em 1601 fundaram a Companhia Holandesa das Índias Orientais e em 1605 instlaram-se nas Ilhas de Molucas.

Face a pressão dos holandeses e dos outros países que não respeitaram o direito português de Mar Fechado aos outros, Portugal apenas conseguiu ficar com a posse do Timor Oriental e enclave de Solar. Tinha relações comerciais com a China. Nos finais do século XVII a aldeia de Lifaú foi fortificada e convertida em sede do Governo e António Coelho Guerreiro, rico mercador e homem de negócios, foi o seu primeiro governador em 1701, o qual privilegiou as boas relações com os chefes nativos. Mas havia querelas entre o governo e o clero regular e de vez em quando os nativos também se revoltavam e em 1742 um frade dominicano chefiou uma revolta dos nativos e em 1769 o governador teve que fugir de Lifau e refugiar-se em Díli, que assim tornou-se a nova capital.

Administrativamente Timor pertencia, juntamente com Macau, ao Estado da Índia, até que, dado a maior complexidade administrativa desses territórios devido a sua expansão territorial, foram descentralizados e numa primeira fase em 1844 foi criada a província de Macau, Solar e Timor, residindo o Governador em Macau e um governo subalterno em Timor. Com o início  das lutas liberais, Timor encontrava-se numa situação de abandono e os timorenses comerciavam directamente com as embarcações holandesas de tal maneira que a fronteira entre os dois territórios quase que já não existia. Na segunda fase administrativa,  para  um melhor controlo territorial de modo a poder delimitar a fronteira e administrar o território em moldes mais eficientes Timor foi seprado de Macau e transformado em província e foi nomeado seu governador Lopes de Lima que por dificuldades financeiras assinou, sem autorização do governo central, em 1851 um Tratado com a Holanda cedendo-lhes Solar, território fiel a Portugal, e a Ilha de Flores, a troco de alguns enclaves holandeses em Timor e 200 000 florins, facto que lhe causou a prisão e morte, mas o Tratado foi renovado e ratificado em 1859 e definida a fronteira entre os 2 partes e reconhecido o direito a Portugal ao enclave de Ocusse na parte ocidental e aos reinos timorenses a leste de uma fronteira traçada de norte a sul e a Ataúro, uma pequena ilha a norte de Díli.

Surgem as rebeliões indígenas desde 1894, em que as autoridades portuguesas conseguiram manter o domínio e procuraram a pacificação, sobretudo no tempo do Governador, Coronel Celestino da Silva, entre 1894-1908 e durante a República implementaram ofícios para contactos pacíficos com os indígenas e colaboração com as populações locais, mas também houve campanhas militares em 1912-13.

Com a 2ª Guerra Mundial nos finais do ano de 1941 as tropas australianas, apesar dos protestos portugueses, ocuparam Timor, e a guerra com ataques japoneses alastrou-se a Timor, com violência e destruição, surgindo guerrilha com a participação de grupos dispersos australianos e timorenses, colonos e deportados políticos metropolitanos, até ao fim da guerra, quando milhares de pessoas já haviam morrido nos bombardeamentos de Díli e outros povoados e nas prisões nipónicas.

Nos anos 1968-1970 a cobertura administrativa era fraca e a maior parte do apoio escolar era dado pelo Exército Português, que na década  de 1970 mantinha ali umas 85 escolas de Acção Social, tendo o seu número aumentado para 100 até 1975. 

Com a revolução portuguesa de 25 de Abril de 1974, em Timor formaram 3 partidos: UDT (União Democrática Timorense) e APODETI (Associação Popular Democrática Timorense) financiada pela Indonésia. Estes dois partidos eram adeptos de integração de Timor na Indonésia. O 3º partido era FRETILIN (Frente Revolucionária para a independência de Timor-Leste) fundada por Lobato Faria, oficial do exército português em Timor, partidário da independência.

Portugal em 1975 deu inicio ao processo de descolonização para eleger o Parlamento e cessar a soberania portuguesa. Realizadas as eleições  em 1975  a FRETILIN foi proclamada vencedora com 55% dos votos e constituiu governo formando a República Democrática de Timor-Leste, alguns meses depois a UDT, em Agosto, ocupou o poder, causando  revolta e conflitos violentos com 3 000 mortos, mas incrivelmente a soberania portuguesa continuou a ser respeitada, apesar de o governador se ter retirado com as tropas, Lemos Pires, para a Ilha de Atauro, ao longo de Díli, em finais de Agosto de 1975, mas em Setembro as forças da UDT recuaram para Timor Ocidental e soldados indonésios vestidos a civil, fizeram  incursões no território  para destabilizar as populações e fabricar guerra civil, período em que, por ordens dos oficiais indonésios, 5 jornalistas australianos são barbaramente torturados e mortos e seus corpos carbonizados, em Balibó, no distrito de Bobonro, na fronteira com o Timor-Ocidental e no dia seguinte, dia 8/12/75 mais um jornalista também australiano que ia investigar as circunstâncias em que seus 5 camaradas tinham morrido sofreu o mesmo destino.

FRETILIN proclamou a independência unilateral em 28 de Novembro de 1975 e a 7 de Dezembro de 1975 a Indonésia ataca por mar, terra e ar, e 400 a 500 mil timorenses refugiaram-se nas montanhas na parte ocidental de Timor fugindo à fúria assassina das milícias. Conselho da Segurança das Nações Unidas exigiu a Indonésia a retirada das suas forças do território e pediu a todos os Estados que respeitassem a integridade de Timor-Leste, assim como o direito inalienável do seu povo à autodeterminação e numa 2ª resolução aprovada em 22 de Abril de 1976 decidiu mandar um enviado especial do Secretário-Geral a Timor-Leste, em Fevereiro desse ano, missão sabotada pela Indonésia e Austrália. Nesta altura Xana Gusmão era fotografo da FRETILIN e tornou-se politico com a morte de Lobato Faria em 1978 e em 1980 torna-se líder da resistência, com apoio da igreja e de largas camadas da população e em 1988, após formar uma aliança entre FRETILIN e UDT foi criado o Conselho Nacional de Resistência Timorense, CNRT, que mais tarde foi acusado de alguns crimes, massacres e execuções, mas ao mesmo tempo elogiado pela sua moderação. No entanto a Austrália por motivos económicos e estratégicos em 1978 reconheceu Timor como 27ª província indonésia e assinou o acordo Timor GAP – acordo celebrado entre Austrália e a Indonésia para exploração de uma plataforma petrolífera no Mar de Timor, tendo Portugal apresentado queixa contra a Austrália. Timor além de ter importantes reservas de petróleo e gás, é rico na produção do café, a par do sândalo. 

Nsto a Assembleia Geral das Nações Unidas desde então até 1982, sob proposta portuguesa, aprovou resoluções condenatórias da Indonésia,  com o apoio dos países africanos de expressão portuguesa e em 1982  uma nova resolução determinou que o Secretário-Geral desse inicio a consultas com todas as partes directamente envolvidas, mas apenas Portugal e Indonésia foram consultados, ignorando os representantes do povo timorense, enquanto a Comissão de Direitos Humanos, 1983 e1993 e a Subcomissão das NU para protecção das minorias também aprovaram resoluções condenando a situação.

No entanto um independentista é morto nos finais de Outubro de 1991 e no dia 11 de Novembro milhares de timorenses reúniram-se no cemitério de Santa Cruz em Díli depois da missa de sufrágio, para seu funeral, onde as forças indonésias disparam causando centenas de mortos e feridos e outros são executados mais tarde, facto filmado pelo jornalista Max britânico e Alan americano, que mais tarde o difundiu nas televisões do mundo inteiro dando visibilidade  internacional e em Portugal numa manifestação de solidariedade  milhões de pessoas de norte a sul e ao longo de vários dias o povo saiu a rua para gritar em uníssono “Timor vencerá”, “basta de horror”, ONU em Timor, palavras de ordem que misturaram com o hino “Aí Timor!” dos Trovantes. Estamparam-se T-shirts, as mãos uniram-se e o trânsito parou, os edifícios vestiram-se de branco e as estátuas foram cobertas com tecidos de fumo negros e em paralelo a diplomacia portuguesa sensibilizou as instâncias internacionais.

A resistência e luta contra o exército ocupante continuou até que Xana Gusmão é capturado em 20 de Nov. 1992 durante uma incursão a Díli e em 1993 condenado a pena de prisão perpétua, pena comutada por Suharto a 20 anos de prisão e é substituído por MAHUNO que no entanto é capturado perto de Ainaro. Xanana na prisão pintou e escreveu o livro Timor Leste, um povo, uma pátria em 1994, recebeu visitas de um representante do SG da ONU e de varias personalidades da cena politica internacional, como Nelson Mandela em 1998, continuando como líder da resistência e é nomeado presidente da  CNRT (Comissão Nacional da Resistência Timorense) em Abril de 1999, numa reunião de forças politicas, sociais e culturais timorenses em Portugal.

A Indonésia propôs a sua libertação com a proposta da sua entrega a UNAMET em Díli, donde depois seria transferido a Baucau e ao principal acontanamento das FALINTIL, proposta que Xanana recusou com a alternativa de ser libertado em Jacarta e sendo aceite, saiu da cadeia de Cipinang e é libertado em Jacarta na presença dos representantes das NU, sendo acolhida na Embaixada do Reino Unido, onde recebeu lideres internacionais, deu conferências de imprensa e traçou planos para futuro.

E no dia 7 de Maio de 1999 o Conselho de segurança (CS) das NU  legitimou o acordo celebrado dois dias antes entre Portugal e Indonésia e pela Resolução nº 1236 autorizou o Secretário-Geral a consultar os timorenses sobre o Regime Especial de Autonomia e no dia 11 de Junho o CS voltou a aprovar uma resolução em que definiu os termos da acção da UNAMET (Missão da NU em Timor leste) em Timor ate a realização do referendo  e com a resolução 1246 de 15 de Setembro 1999 aprovou a  autorização para estabelecimento de uma força multinacional para estabelecer a paz e segurança em Timor Leste e apelou ao fim da repressão e exigiu que os responsáveis fossem presentes a justiça.

Portugal e Indonésia assinaram no dia 5 de Maio em Nova Iorque um acordo para consultar os timorenses e foi feito referendo no dia 30 de Agosto, depois de 24 anos de dominação, com duas perguntas: Aceita a autonomia especial proposta para Timor Leste com integração no Estado Unitário da República Indonésia? Ou “Rejeita a autonomia especial proposta para Timor-Leste, levando a separação de Timor-Leste da Indonésia?” e os resultados foram divulgados por Kofi Annan em Nova Iorque, numa sessão pública do Conselho de Segurança e do total dos eleitores recenseados  compareceram 98,6%, sendo 21, 5%, seja 94 388, a favor da autonomia e 78,5%, seja 334 580, a favor da independência.

E, face aos resultados do referendo, os EUA cessaram a cooperação militar com a Indonésia e bloquearam a ajuda económica da FMI até que fossem honrados os compromissos, embora que Portugal tenha solicitado o bloqueio económico logo depois do massacre de S. Cruz.

Após a retirada das Forças Armadas Indonésias chegaram a Díli os primeiros refugiados das montanhas em 1999, depois da morte de ¼ da população timorense, volta de 500 000 mortos e difusão das  doenças como sarampo, tuberculose, subnutrição, etc.

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