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Guiné Bissau - FORMAÇÃO TERRITORIAL: Os navegadores portugueses na década de 1460 na sua rota para o Atlântico Sul chegaram ao Golfo da Guiné e, após negociações com os chefes locais, construiram feitorias e fortalezas  para fomentar o comércio. Estes estabelecimentos eram designados de "Mina". A fortaleza da Feitoria se S. Jorge de Mina, construida em 1480 era a principal, e tinha  autoridade sobre toda a costa do Golfa da Guiné, desde Mali, Senagal, Gana e Nigéria. Estes territórios  faziam parte do Governo de Cabo Verde. Só à partir do século XVII surgem  feitorias no interior ao longo dos Rios Casmansa e Geba, quando também é fundada a Feitoria de Bissau, com fortaleza, igreja e hospital, formando a actual Guiné-Bissau. Devido a intromssão dos franceses, holandeses e ingleses, nos finais do século XIX na Costa da Guiné sobravam apenas as feitorias das bacias dos Rios Cacheu e de Geba. Após a revolução liberal, os domínios africanos identificados nos textos constitucionais formavam três governos gerais – o de Cabo Verde e Guiné, o de Angola e  Moçambique e um governo particular – o de São Tomé e Príncipe e São João Baptista de Ajudá. Assim na Costa da Mina tinham Angola, Benguela e as suas dependências: Cabinda e Molembo e as Ilhas de Cabo Verde e de S. Tomé e Príncipe; na costa oriental africana ficavam Moçambique, Rio Sena, Sofala, Inhambane, Quelimane e Cabo Delgado.

A competição dos franceses implantados no Senegal e  a resistência dos muçulmanos, impediram a expansão portuguesa no interior, seja da actual Guiné Bissau, antiga Senegâmbia portuguesa. Na década de 1870 Portugal ainda mantinha alguns conflitos com a França e a Inglaterra, destacando o litígio fronteiriço da Guiné Bissau com as reclamações francesas no Casamansa e o litígio luso-britânico sobre a posse da Ilha de Bolama, resolvido de comum acordo com a arbitragem internacional conduzida pelo Presidente dos EUA, Ulysses Grant,  confirmando a soberania portuguesa no Arquipélago dos Bijagós e nas áreas limítrofes do noroeste africano, bem como as reivindicações portuguesas ao direito de soberania no Rio Zaire e na Baía de Lourenço Marques. A Guiné- Bissau separa-se em 1879 do governo de Cabo Verde, face a expansão territorial da Guiné e desenvolvimento de Cabo Verde. O seu primeiro governador, Honório Barreto, era negro que negociou com os chefes locais o desenvolvimento comercial correspondendo as expetativas dos comerciantes e plantadores afro-portugueses e mesmo europeus.

COLONIZAÇÃO E ECONOMIA: Na década de 1460 os descobridores portugueses praticavam o comércio de malagueta, drogas, pescarias, marfim, escravos e ouro na costa da Mina, desde Arguim, Cantor, Gâmbia e Serra Leoa. A Coroa tinha o monopólio das especiarias, escravos e ouro, que depois o príncipe D. João, futuro Rei D. João II, arrendou ao Fernão Gomes. A partir do século XVI surgiram novas feitorias, ao longo dos rios Casamansa e Geba, apesar da concorrência dos holandeses e ingleses, formando a actual Guiné Bissau, onde em 1601 a Coroa aí fixou um grupo dos judeus para tráfico mercantil e fundou em 1680 a Companhia de Cabo Verde e de Cacheu para controlar e estimular o comércio e estabelecer  feitorias na costa continental, e  em 1696 estabeleceu a feitoria em Bissau com fortaleza, igreja e hospital, povoada com degredados por falta de colonos, quando ao mesmo tempo caiam nas mãos dos holandeses outras posições. No interior destas áreas viviam tribos islamizadas, como fulas, mendingas e biafades ou biafar e tribos não islamizadas, menos evoluídas, como balantas, manajaus, papeús, felupes, bijagós, nolus, etc. Estas tribos falavam línguas ou dialectos com forte influência árabe, como swahli e estavam organizados em principados sob chefia de um xeque. Honório Barreto, primeiro governador negro da Senegâmbia portuguesa iniciou as primeiras negociações com os chefes locais para o desenvolvimento comercial através de Cacheu, Bissau e Rio Grande, correspondendo as expectativas de comerciantes e plantadores afro-portugueses e mesmo europeu.

REBELIÕES E INDEPENDÊNCIA: Em 1959 um protesto dos estivadores do porto de Bissau foi reprimido com grande violência – Massacre de Pidjiguiti, acto que pesou na decisão de Amílcar Cabral, em criar PAIGC, conjuntamente com Aristides Pereira, Luís Cabral e Júlio de Almeida, e em optar pela luta armada em 1963 com o ataque ao quartel de Tite, obrigando a Portugal reforçar o seu dispositivo militar. Em 1964 dá-se o primeiro Congresso de Amílcar Cabral e procedem a reorganização do aparelho militar e político do PAIGC e criam as Forças Armadas Revolucionárias do Povo e a guerrilha ganha eficácia. Em 1966  Amílcar Cabral  deslocou a Havana para  conferência Tricontinental, onde  Fidel Castro declarou apoiar a “luta de libertação ” e de imdediato partiu à Guiné o primeiro contigente cubano de 25 elementos, entre eles o Ulisses Estrada,  33 anos, já com experiência de combate no Congo, ao lado de ‘Che’ Guevara, mas a doença provocada pela mosca tsé tsé obrigou-o a voltar meses depois ao país natal. O seu compatriota Óscar Oramas assumiu nesse tempo o posto de embaixador de Cuba na Guiné-Conacri, país que era base logísitca da guerrilha. Supõe-se terem passado à volta de 500 combatentes cubanos ao lado dos guerrilheiros de PAIGC, durante os 8 anos de luta. O cabo-verdiano ‘Manecas’ Manuel Soares, uma das figuras mais carismáticas do PAIGC, foi a União Soviética aprender a disparar os mísseis, Strella SAM 7, arma que neutralizou a aviação portuguesa em 1973. Esta guerrilha apoiada pela Cuba e pela União Soviética tinha armamento mais moderno e eficaz do que as tropas portuguesas e com o uso dos mísseis a sua superioridade aumentou. O PAIGC contava com mulheres nas fileiras  para tratar da logística e também como combatentes. 

Amílcar Cabral tentou mobilizar para a sua ideologia as camadas urbanas, pequena burguesia, funcionários, empregados do comércio,  estivadores, jovens vindos do campo para a cidade, e mais tarde tentou as massas rurais, mas ao perceber que nem todos alinhavam com as suas ideias e só podia contar com pessoas que tivesse problemas com as autoridades dividiu o povo em categorias: uma pequena burguesia revolucionária com o ideal de nacionalismo; os hesitantes entre o poder português e a libertação nacional; e os comprometidos com o poder português, seja a maioria dos funcionários e as profissões liberais. Optou-se como seus colaboradores os da primeira categoria, a pequena burguesia revolucionária, a fim de esconder os materiais ou guerrilheiros e decidiu liquidar as pessoas que prejudicassem o PAIGC, incluindo os seus desertores, e os exploradores do povo.

Em 1968 tomou posse da Guiné o General Spínola, como comandante militar e governador civil, e implantou sua governação baseando-se no culto das virtudes militares e cívicas e nos ditames da consciência humana, respeitando os direitos, usos e costumes do povo, e defendendo o bem-estar e os direitos do povo. Com esta orientação as unidades militares portuguesas trabalhavam na elevação do nível de vida das populações, abrindo a porta de regresso dos hesitantes ou desiludidos com o PAIGC e Amílcar Cabral preocupado preconizou a eliminação física do general Spínola, expressando:  “não faz sentido que o Governador de Bissau, o Senhor Spínola, com o seu monócolo e as suas luvas, apareça nas cidades da nossa terra, sem ninguém lhe fazer medo, ainda há dias em Bissorá foram inauguradas três esolas, Spínola esteve lá, mostrou as suas luvas e o seu monócolo por todos os lados, andando nas ruas com a nossa gente, camaradas, ninguém me convence que não é possível..elementos das nossas forças armadas.. no momento em que se junta muita gente..lançar uma granada, uma granada chega para matar o Spínola.. e continuava a aconselhar acções terroristas nos centros urbanos".

A conquista da população na Guiné-Bissau foi um objetivo que as Forças Armadas portuguesas perseguiram com sucesso notável. Negociou-se a entrega de 2 principais grupos de guerrilha que actuavam no Chão Manjaco, mas o grupo oposionista causou a morte em 20 de Abril de 1970 de 6 homens: três Majores do Exército Português, Passos Ramos, Pereira da Silva e Magalhães Osório, acompanhados pelo Alferes Joaquim Palmeiro Mosca e seus 3 guias civis, todos desarmados, foram brutalmente assassinados na Região de Teixeira Pinto, mais precisamente em Jolmete.

Em 1970 um comando português invadiu a Guiné Konakri – Operação Mar Verde, com o objetivo de  substituir a liderança política pelos seus simpatizantes, destruir a cúpula de PAIGC, destruir os aviões Migs, navios da Marinha Guineenses Konakri, libertar os 26 prisioneiros portugueses. A operação deu-se no dia 19/11/1970 sob comando de Alpoim Galvão, com uma Companhia de Comandos Africanos, 21 Fuzileiros Africanos e  paraquerdistas, num total de 200 homens e mais 200 dissidentes políticos do regime de Sekó Touré. Não conseguiram eliminar Seko Touré e destruir os MIGs, e houve a deserção a última hora de 20 homens encarregados de ocupar o aeroporto e de destruir os aviões. Mas, conseguiram libertar: os 26 prisioneiros de guerra e os 400 prisioneiros políticos, destruir as lanchas e 7 vedetas ancoradas no porto, dezenas de veículos, e liquidar cerca de 500 homens da Guarda Pessoal de Seko Touré. Os desertores foram presos e mortos. As forças portuguesas tiveram 3 mortos e 3 feridos graves.

Em 20/01/1973 quando Amílcar Cabral e Aristides Pereira, regressavam ao seu quartel-general estavam à sua espera 3 guerrilheiros que prenderam primeiro o Aristides Pereira e o meteram num barco, mas  Amilcar Cabral, que se encontrava acompanhado da sua mulher e dum jornalista russo, foi morto por ter resistido.

Em Maio de 1973 a guerrilha concentra-se na fronteira e faz 220 ações em todo o território da Guiné-Bissau e entre  8 de Maio a 8 de Junho de 1973 faz o ataque continuado ao quartel de Guidage na fronteira do Senegal, causando cerca de 39 mortos e 122 feridos, material militar destruido e abate de 3 aviões com o uso de foguetes antiaéreos e os mísseis terra-ar, obrigando a retirada da unidade para Gadamael, com mais de 600 civis  a pé por um trilho de terra batida. Também as unidades do norte são atacadas, fazendo dispersar o efetivo militar português. O ataque a Guiledje implicou um demorado estudo topográfico: “Só tínhamos um mapa à escala 1/500.000 m, o que comprometia a eficácia da artilharia. Homens como Osvaldo Vieira ou o comandante cubano Raúl Diaz Arguelles palmilharam o terreno e conseguiram elaborar um mapa à escala 1/50.000”. A 25 de Março, o comandante manda fazer um ataque simulado a Guiledje. “O objectivo era fazer o inimigo chamar os meios aéreos.” Em menos de cinco minuto, o Fiat a jacto aparece nos céus. Era uma oportunidade única de experimentar o ‘Strella’, um míssil terra-ar cedido pela União Soviética aos independentistas. O tiro sai certeiro. O avião é atingido e despenha-se: “Ficámos tão eufóricos que nem demos conta de que o piloto se tinha ejectado. Com o ‘Strella’ acabava-se a superioridade do Exército colonial. Já podíamos atacar de dia”. Estava previsto que o ataque a Guiledje ocorresse em simultâneo com o que teve lugar em Guidaje, no Norte da Guiné, liderado por Luís Cabral, irmão do malogrado líder do PAIGC. ‘Nino’ explica que “o facto de eles terem sido detectados levou-os a anteciparem o ataque”. Esta ofensiva fez deslocar para o Norte o dispositivo militar português, da região sul, COP5 (Comando Operacional 5, que compreendia a região sul, junto à fronteira com a Guiné-Conacri), ficando esta entregue apenas aos seus 150 homens quando, a 18 de Maio, três corpos do Exército das FARP iniciam a ofensiva. Os morteiros de 120 mm começam a chover sobre o quartel, obrigando militares e civis a meterem-se nos abrigos. Os pedidos de reforços são recusados. No dia 19, Coutinho e Lima parte para Bissau, onde expõe a Spínola a gravidade da situação. Pede reforços, mas o general não só lhe recusa ajuda como o manda de volta a Guiledje com a informação de que vai ser destituído do comando nos próximos dias, mas a fim de aliviar a pressão militar sobre o aquartelamento militar de Guidage, no norte de Guiné, foi feita a operação sobre a base de PAIGC de Cumumbori em 19/5/1973, na fronteira sul de Senegal, destruindo-a e capturando material. No dia 21, o major chega ao quartel. Ao inteirar-se da situação, assume que só há duas opções: “Percebi que era impossível obter uma vitória militar. Ou ficávamos ali à espera do novo comandante – que não trazia reforços – e arriscávamo-nos a um grande número de baixas civis e militares – ou abandonávamos o quartel.” Sem água e condições sanitárias e com um armamento muito inferior ao do inimigo, Coutinho resolve sair. Três dias depois o PAIGC entra em Guiledje. O corredor do povo – a zona por onde o PAIGC fazia entrar homens e abastecimentos vindos das bases na Guiné-Conacri e que os portugueses apelidavam de corredor da morte – estava livre de perigo. Afastada a aviação e garantida uma logística eficaz, o PAIGC tinha tudo para ganhar a guerra, em 24 de Setembro de 1973 em Medina de Boé PAIGC declarou unilateralmente a independência, sendo logo   reconhecido pela esmagadora maioria dos países da ONU. O general Spínola, após reconhecimento da sua independencia pela ONU, é substituido pelo general Bettencort Rodrigues.

Surgem na Guiné os 1ºs 2  mísseis terra-ar SAM 7 em 20/3/1973 a norte, mas sem alcançar os aviões, mas a partir de 25/3/1973 até 6 /4/1973 conseguiram destruir 6 aeronaves, causar 6 mortos e 4 desparecidos, obrigando a Força Aérea fazer restrições aos reconhecimento.

Com a ajuda dos peritos americanos tomaram medidas para evitar o abate das aeronaves. Portugal fez o pedido dos mísseis aos EUA e, entretanto, devido ao agravamento da guerra na Guiné, reiniciou os contactos com o PAIGC, mas que foram interrompidos quando o pedido dos mísseis foi aceite com a condição de serem entregues na RFA, em finais de Abril de 1974. Entretanto, a guerra na  Guiné ia agravando-se com os terríveis ataques sobre os quartéis de Gadamael, Guilege e Guidage e pela enorme instabilidade que isto criara nas tropas.

Spínola regressou a Lisboa terminado o mandato e foi substiuido pelo general Bettencort Rodrigues. Com a revolução portuguesa de 25.04.1974 em Lisboa, a 26/4/974  um grupo de oficiais destituiu o governador civil e comandante militar, Bettencourt Rodrigues, e assumiu a revolução na colónia e deram início a negociações e foi acordado o cessar-fogo e a 26 de Agosto Portugal reconheceu a independência. 

 A 31 de Dezembro de 1973, os efectivos militares nas três frentes de guerra totalizavam 148 mil homens. Angola 65 000, Moçambique 51 000 e Guiné 32000. A guerra da Guiné durou 11 anos, desde 1963 até 1974 e causou 2 240 mortos.

Após a independência em 1974, passados 36 anos, o território tem vivido sempre em crise política, social e económica, estando atualmente, ano 2010, com o apoio dos países amigos conseguido fazer algumas melhorias básicas em benefício das suas populações.

A política das independências defendida e apoiada pela ONU  foi um fracasso. A substituição dum sistema administrativo estruturado em instituições centenárias por um sistema de índole marxista ou socialista causou um autentico desastre social e económico, uma guerra generalizada e fratricida com muitos mais mortos, estropiados e traumatizados, com uma duração muito superior do que os 11 anos da guerra de guerrilha. A ONU devia defender a correcção das anormalidades existentes no sistema administrativo português em vez de defender as independências como solução dos problemas para a melhoria das vidas das populações locias.

 

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